
Grandes empresários estão acumulando uma parte significativa das riquezas do mundo, o que pode prejudicar a capacidade dos governos em assegurar direitos básicos como educação, saúde e alimentação. Essa é a principal conclusão de um relatório divulgado por uma organização que estuda a desigualdade global.
O estudo apresenta dados que mostram um crescimento acentuado da riqueza privada nos últimos anos. Entre 1995 e 2023, a riqueza privada mundial aumentou em 342 trilhões de dólares, um crescimento oito vezes maior do que o da riqueza pública, que cresceu apenas 44 trilhões de dólares. Esses números ressaltam a disparidade entre o capital privado e o investimento público.
De acordo com a pesquisa, essa desigualdade se intensificou porque muitos governos têm priorizado o interesse do capital privado em vez de focar no desenvolvimento social. Esse fenômeno é conhecido como “Consenso de Wall Street”. A ideia central é que o financiamento do desenvolvimento deveria ser responsabilidade dos Estados, mas cobra-se cada vez mais do setor privado, criando uma dependência prejudicial.
Diante disso, o relatório critica essa abordagem, argumentando que ela gera atrasos em compromissos internacionais, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela ONU, que visam erradicar a fome e reduzir a mortalidade infantil até 2030. Um levantamento indica que apenas 16% das metas dos ODS estão a caminho de serem alcançadas, enquanto 84% apresentam progresso limitado ou até retrocessos.
O documento também ressalta que há uma concentração de riqueza alarmante. Desde 2015, a fortuna dos mais ricos, os 1% da população global, aumentou em 33,9 trilhões de dólares. Essa quantia poderia, segundo o Banco Mundial, eliminar a pobreza no mundo 22 vezes.
No Brasil, a situação se agrava, com a diferença entre o crescimento das riquezas pública e privada sendo ainda mais acentuada do que em outras partes do mundo. O país tem buscado implementar políticas como parcerias público-privadas, especialmente após a adoção do teto de gastos em 2016. Essa estratégia levou ao subfinanciamento de serviços públicos essenciais e à fragilização do papel do Estado como garantidor de direitos.
Contudo, o governo atual também trouxe algumas propostas que visam melhorar essa situação. Entre elas, há a sugestão de taxar os super-ricos para aumentar a contrapartida destes na arrecadação pública. A ideia é isentar trabalhadores com rendimento até R$ 5 mil mensais e aplicar taxas mais altas para quem ganha a partir de R$ 600 mil por ano. Essa medida é vista como um passo importante para corrigir distorções e aumentar a capacidade do Estado em atender às necessidades sociais.
Entre as possíveis soluções para a crise de financiamento público, o relatório defende a tributação sobre os mais ricos, uma ideia que tem apoio crescente, especialmente no Brasil. Além disso, enfatiza a necessidade de que países ricos aumentem sua ajuda aos mais pobres, já que, atualmente, ocorre uma redução significativa dos repasses.
A discussão sobre essas soluções deve acontecer em um evento da ONU, em Sevilha, Espanha, onde diversos líderes se reunirão para abordar a situação e buscar alternativas para os desafios globais atuais. A esperança é que, diante de uma conjuntura desfavorável, o desenvolvimento seja colocado como prioridade, em vez de ser subjugado aos interesses de uma minoria privilegiada.