
O Deutsche Bank adotou uma abordagem mais cautelosa em relação ao real brasileiro, considerando a possibilidade de tarifas do governo dos Estados Unidos afetarem negativamente as exportações do Brasil. Essa nova perspectiva também está ligada ao aumento das chances de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conforme um relatório divulgado recentemente.
Os analistas Carlos Munoz-Carcamo e Drausio Giacomelli, que assinam o documento, realizaram esta análise após o anúncio inesperado de tarifas sobre produtos brasileiros, decidido pelo governo americano. O banco ressalta que essa ação dos EUA, sob a liderança de Donald Trump, pode fortalecer a posição de Lula, permitindo que ele adote um discurso em defesa da soberania nacional. Isso, por sua vez, pode ampliar sua base eleitoral para as eleições de 2026.
Embora o Deutsche Bank mantenha uma visão otimista para o real a longo prazo, a atual situação traz novos riscos para a moeda. Entre os principais desafios mencionados estão a deterioração das relações comerciais com os Estados Unidos, a provável reeleição de Lula e os impactos econômicos das tarifas impostas. Mesmo com uma base econômica sólida, como altas taxas de juros e uma conta corrente favorável, o banco alerta que a volatilidade do real pode aumentar nos próximos meses.
Em relação às tarifas, que variam até 50%, o banco observa que a decisão surpreendeu não apenas pela magnitude, mas também pelos motivos que vão além do campo econômico, incluindo críticas ao sistema judiciário e à regulação das redes sociais no Brasil. Embora as exportações mais afetadas representem apenas 2% do PIB, cerca de 18% das vendas da indústria brasileira têm os Estados Unidos como principal mercado, tornando o setor vulnerável.
Além disso, o Deutsche Bank destaca que as relações do Brasil com a China podem estar influenciando a tensão comercial. O Brasil tem intensificado sua integração com o bloco BRICS, sediou recentemente uma cúpula do grupo e está considerando a adesão à Iniciativa Cinturão e Rota. Um megaprojeto ferroviário binacional com a China também foi acordado.
Na noite de terça-feira, Donald Trump anunciou o início de uma investigação comercial contra o Brasil, citando práticas comerciais que, segundo ele, são “injustas”. O Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR) fez este anúncio com base na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974, alegando que há décadas as práticas do Brasil restringem o acesso de exportadores americanos ao mercado brasileiro, embora não tenham apresentado provas concretas para sustentar essa afirmação.