Empresas bloqueiam novas regras de governança na B3

Enquanto a Bolsa de Valores do Brasil, conhecida como B3, celebrava um recorde com o Ibovespa ultrapassando os 141 mil pontos pela primeira vez, uma proposta importante para atualizar as regras do Novo Mercado, que abriga empresas com altos padrões de governança, passou despercebida.

Essa proposta, feita pela própria B3, tinha o objetivo de modernizar as normas de governança corporativa e alinhar as práticas brasileiras aos padrões internacionais. Algumas das principais mudanças sugeridas incluíam:

– Maior independência dos conselhos de administração.
– Regras mais claras para auditorias externas.
– Criação de canais estruturados de denúncia para casos de abusos.

A ideia da B3 era fortalecer a proteção ao investidor e prevenir escândalos corporativos que podem minar a confiança no mercado.

No entanto, cerca de 190 companhias que tinham direito a voto na votação da proposta se mostraram resistentes, com quase metade delas rejeitando a mudança. O principal motivo apontado foi o aumento de custos que a implementação das novas regras demandaria. Essa resistência acontece em um momento em que o mercado acionário está se recuperando após um longo período de juros altos e baixa liquidez, de acordo com análises do CEO do Monitor do Mercado.

A falta de avanços em governança pode complicar a atração de investidores, especialmente estrangeiros, que buscam transparência e fiscalização como critérios fundamentais de avaliação. Apesar da rejeição de muitas empresas, grandes nomes como Vale, Lojas Renner, IRB Brasil e Westwing apoiaram as mudanças, defendendo que investir em governança é essencial para ganhar credibilidade e expandir o capital disponível.

A discussão em torno da reforma se intensifica ao lembrar casos que evidenciam a necessidade de uma governança mais robusta no Brasil. Situações como as das empresas Americanas, IRB Brasil e Oi expuseram falhas em controles internos, resultando em perdas significativas para os investidores. Sem canais adequados para denúncias e com baixa supervisão, problemas podem ser detectados tardiamente, quando as consequências já são severas.

Atualmente, o investidor pessoa física representa cerca de 12% do volume financeiro diário na B3, o que equivale a aproximadamente R$ 3,2 bilhões. Porém, muitos desses acionistas se sentem negligenciados nas decisões estratégicas das empresas. O CEO do Monitor do Mercado alerta que, sem melhorias na governança, o mercado poderá continuar se afastando de potenciais investidores, o que limita novas ofertas públicas de ações, que estão praticamente estagnadas desde 2021.