Fila de espera para cirurgias: o que você precisa saber

A espera por cirurgias ortopédicas na rede pública de Campo Grande pode levar anos, em grande parte devido ao aumento de acidentes de trânsito, especialmente envolvendo motociclistas. O volume crescente de pacientes acidentados está lotando os hospitais e impactando negativamente os atendimentos eletivos, que são aqueles programados previamente.

A situação é preocupante. A Santa Casa de Campo Grande é o único hospital que atende casos complexos de politraumatismo pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian também recebe pacientes ortopédicos, mas enfrenta limitações em seus recursos e não atende politraumatizados. Essa realidade se reflete em todo o país, com dados do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia mostrando que, no ano passado, 1.450 cirurgias eletivas de alta complexidade foram adiadas em favor de emergências.

Segundo Larissa Missirian, coordenadora do Sistema de Regulação Municipal, a demanda por atendimento de emergência tem sido crescente, levando a uma alta ocupação dos leitos disponíveis, o que dificulta ainda mais o agendamento de cirurgias eletivas. Ela observa que essa pressão é um problema que afeta não apenas Campo Grande, mas diversas regiões.

Além disso, o cenário se torna ainda mais crítico quando consideramos que há apenas um hospital especializado em politraumatismo para atender todo o Estado de Mato Grosso do Sul. Com o aumento de acidentes de trânsito, a quantidade de leitos disponíveis se torna insuficiente. A cidade também recebe pacientes de outras partes do Estado, aumentando ainda mais a carga sobre os serviços de saúde.

Outra questão que agrava a situação é a ausência de um banco de ossos na rede pública de saúde em Campo Grande, o que dificulta ainda mais os procedimentos cirúrgicos ortopédicos. Atualmente, essa estrutura está disponível apenas na rede particular.

O impacto desta situação pode ser visto na vida de pacientes que, após sofrerem acidentes, enfrentam longas esperas para realizar cirurgias necessárias. Um exemplo é um jovem de 25 anos, que sofreu um acidente de moto e foi diagnosticado com paralisia no braço. Ele deveria ter feito uma cirurgia em até seis meses, mas enfrentou dificuldades para conseguir atendimento, resultando em sua decisão de contratar um advogado para garantir prioridade na operação.

As emergências que chegam aos hospitais, muitas vezes, ocupam leitos que poderiam ser usados para cirurgias eletivas. Quando casos de urgência são atendidos, cirurgias agendadas muitas vezes são canceladas ou adiadas. A lógica do SUS estabelece que pacientes mais graves ou com necessidade maior são atendidos primeiro, mas isso acaba prejudicando aqueles que aguardam procedimentos eletivos.

A Secretaria Municipal de Saúde foi questionada sobre o número de leitos reservados para ortopedia e os recursos disponíveis para essa especialidade, mas não forneceu informações específicas. Ao todo, na rede pública, há 1.719 leitos contratualizados pelo SUS, incluindo UTI e enfermarias.

Além dos acidentes de trânsito, o envelhecimento da população e o aumento de doenças crônicas também contribuem para o aumento da demanda por cirurgias e a fila de espera. A ortopedia, em particular, é identificada como um gargalo no sistema de saúde da cidade.

Diante dessa realidade, o Ministério Público Estadual abriu um inquérito para investigar as deficiências na estrutura de atendimento ortopédico na rede pública. Essa investigação busca compreender as falhas que forçam pacientes a buscarem tratamento no setor privado, além de apurar a responsabilidade do poder público em relação ao bloqueio de verbas para cirurgias.

A situação revela a necessidade urgente de melhorias na infraestrutura e na gestão da saúde pública em Campo Grande, para garantir atendimento adequado à população e reduzir as filas de espera para procedimentos necessários.