
Às vésperas da oficialização de uma nova intervenção militar no Haiti, lideranças locais expressam preocupações sobre essa medida, considerando-a uma tentativa de atender a interesses externos em detrimento dos haitianos.
Erik Prince, fundador da Blackwater, uma empresa militar privada, anunciou a intenção de enviar centenas de mercenários ao país com a justificativa de combater a violência das gangues e restaurar o sistema de arrecadação de impostos. Essa notícia levantou a preocupação de muitos, incluindo Camille Chalmers, economista e líder de um movimento social, que criticou a ideia de trazer mercenários, afirmando que tal ação só pioraria a situação de violência no país.
Chalmers fez uma associação com a estratégia de “bombeiro incendiário”, que se refere à criação de um problema para, em seguida, oferecer a solução a um custo elevado. Ele destacou que essa tática foi utilizada no passado pelo Brasil, quando enviou tropas sob o comando do general Augusto Heleno para controlar a situação em 2004, mas que resultou em diversas atrocidades, como massacres e abusos, sem necessariamente melhorar a violência no Haiti.
A crise atual no Haiti é marcada por um aumento no número de gangues armadas, que Chalmers acredita serem apoiadas pelos Estados Unidos e pela República Dominicana. Ele acusou esses países de fornecer armas e apoio aos grupos criminosos, que têm causado destruição em hospitais, escolas e outras instituições essenciais. Além disso, Chalmers apontou que a Polícia Nacional do Haiti enfrenta uma severa falta de recursos e de pessoal, em parte devido ao bloqueio de importações de armamentos e à saída forçada de oficiais qualificados.
Sobre a atuação da Vectus Global, a nova empresa de Prince, ele afirmou que seu objetivo é restaurar a segurança no Haiti em um prazo de um ano, permitindo que cidadãos e veículos possam transitar entre cidades sem serem parados ou ameaçados por gangues. A Vectus Global já está presente no país desde março, utilizando tecnologias como drones, e planeja enviar mercenários treinados em diferentes partes do mundo.
Entretanto, a Blackwater, que ficou famosa por sua atuação contestável no Iraque, teve integrantes condenados por assassinatos e torturas, e essa política de segurança privada gera controvérsias sobre o respeito aos direitos humanos no Haiti. Especialistas e defensores dos direitos humanos alertam que a utilização de empresas militares privadas não é uma solução viável e pode, na verdade, aprofundar a crise e comprometer a soberania do país.
A proposta de aumentar a presença de mercenários no Haiti gerou debates acalorados dentro do governo de transição. O atual premiê, Alix Didier Fils-Aimé, supostamente assinou um contrato com a Vectus Global, mas seu antecessor, Fritz Alphonse Jean, negou a existência desse acordo. Esse desentendimento pode intensificar as tensões entre os diferentes grupos no governo enquanto o país se esforça para encontrar uma solução duradoura para sua situação de insegurança e crise.