Cúpula do Mercosul termina sem declaração por divergências entre Lula e Milei

A 67ª Cúpula do Mercosul, realizada no sábado (20) em Foz do Iguaçu, foi marcada por um notável desentendimento entre os líderes presentes sobre a abordagem dos Estados Unidos em relação à Venezuela. As declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e do presidente argentino Javier Milei destacaram as divergências políticas entre os dois principais países do bloco e impediram a elaboração de uma declaração conjunta ao final do encontro.

Na abertura da cúpula, Lula adotou uma postura crítica com relação à presença militar dos Estados Unidos nas proximidades da Venezuela. Ele expressou sua preocupação com os riscos de uma possível intervenção militar no país vizinho. O presidente brasileiro ressaltou que a intensificação das operações militares na região representa uma ameaça à estabilidade da América do Sul e aos princípios do direito internacional.

Lula mencionou que, após mais de quarenta anos desde a Guerra das Malvinas, a América do Sul está novamente sob a sombra da presença militar de uma potência externa. “Os limites do direito internacional estão sendo testados”, afirmou. Ele alertou que uma intervenção na Venezuela poderia gerar uma catástrofe humanitária em toda a região e criar um precedente perigoso para o futuro.

As observações do presidente se referem a ações recentes do governo americano, que, sob a administração de Donald Trump, reforçou sua presença militar na América Latina, alegando combater o tráfico de drogas. Isso inclui deslocamento de navios de guerra no Mar do Caribe, bem como intervenções em embarcações na área.

Por outro lado, Javier Milei utilizou sua fala para apoiar uma postura mais agressiva em relação à Venezuela. O presidente argentino referiu-se ao governo de Nicolás Maduro como uma “ditadura atroz e inumana” e o classificou como “narcoterrorista”. Milei expressou que a Argentina está disposta a apoiar as ações dos Estados Unidos para pressionar pela liberdade do povo venezuelano, afirmando que “o tempo da timidez nesta questão já passou”.

A defesa de Milei da intervenção externa evidenciou a falta de consenso entre o Brasil e a Argentina sobre como abordar a crise na Venezuela e o papel de potências externas na região.

Em dezembro, Lula teve conversas telefônicas com Trump e Maduro. Ele relatou que a ligação com Maduro durou cerca de 40 minutos e concentrou-se em discutir como o Brasil poderia ajudar a encontrar uma saída negociada para a crise. Em uma conversa posterior com Trump, Lula afirmou que o Brasil estava disposto a contribuir para uma solução pacífica, desde que houvesse um real interesse no diálogo entre as partes envolvidas.